sexta-feira, novembro 25, 2005

Foi há 30 anos...

Passam hoje trinta anos sobre o 25 de Novembro de 1975, data que marca o fim do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) iniciado logo após 25 de Abril de 1974. Durante esse ano e meio a liberdade viveu-se em Portugal de uma forma intensa. Se nos primeiros meses (pelo menos até Setembro de 74) após a Revolução o ambiente era "festivo", a partir de 1975 os confrontos ideológicos multiplicam-se e vão estar na origem do famoso Verão Quente. Esta conflitualidade dá-se por um simples motivo: por que caminho deve seguir a Revolução? E aqui encontramos, no mínimo, três correntes:
  1. Uma, liderada pelo general Spínola, mais conservadora e que recusava a hegemonia do MFA na política portuguesa, tal como o processo de descolonização que estava a decorrer. Esta corrente - que tinha no MDLP / ELP o seu maior expoente - sai derrotada do 11 de Março de 1975 , mas será posteriormente responsável por muitos ataques bombistas às sedes dos partidos mais à esquerda.
  2. Uma, liderada por Vasco Gonçalves, com apoio do PCP e outras forças mais à esquerda, e que pretendia seguir uma espécie de socialismo à moda da URSS ou ainda mais radical. Será a perda da influência de Vasco Gonçalves e, por consequência do PCP, que levarão aos acontecimentos de 25 de Novembro. No entanto, há que realçar que nenhum destes está directamente ligado à saída dos pára-quedistas das bases.
  3. Uma, consequência do "Documento dos Nove" (que aparece em Agosto de 1975), que é bem mais moderada do que as anteriores e que conta com o apoio dos restantes partidos à direita do PCP. Aqui encontramos Mário Soares, Sá Carneiro, Vasco Lourenço e o ideólogo do programa do MFA, Melo Antunes, entre muitos outros. Este grupo pretendia a estabilização do processo revolucionário, para que desse modo se realizassem eleições legislativas e presidenciais.

Os acontecimentos de há trinta anos ainda hoje continuam por explicar. Existe ainda muita confusão quantos aos responsáveis pela tentativa de um golpe de estado. É quase garantido que quer o PCP, quer Vasco Gonçalves, nada tem a ver com isto de forma directa, ou seja, não sendo os responsáveis pelas movimentações militares. Agora, não há muitas dúvidas quanto à posição que tomariam caso eclodisse algum tipo de conflito. Cada vez mais se está inclinado para grupos de esquerda revolucionário (MRPP, FEC (ml) e outros) e para uma espécie de esquerda militar mais radical, na sua maioria composta por pára-quedistas. Aqui também não se pode sonegar o papel de Otelo Saraiva de Carvalho. A sua aparente recusa em liderar este golpe, acabou por deixar os revoltosos sem lider. E é aqui que continua a grande dúvida: Quem deu ordem para que os pára-quedistas saíssem dos quartéis? Há quem fale de uma espécie de cilada por parte dos moderados para precipitar a saída dos pára-quedistas. Será? É mais uma dúvida.

Do outro lado, temos as tropas (essencialmente Comandos) lideradas pelo, na altura, tenente-coronel Ramalho Eanes que sem muito esforço consegue aniquilar a tentativa de golpe. No entanto, os maiores créditos vão para o Presidente da República de então, o General Costa Gomes pela maneira como geriu os acontecimentos, evitando assim uma guerra civil. Isto porque a partir do momento em que souberam do que se passava, os partidos políticos entraram em acção, mobilizando os seus militantes. Foi a capacidade negocial do PR que acabou por conseguir a desmobilização. Uma certeza existia: alguns partido políticos (principalmente PS e PCP) tinham armazenado armas para qualquer eventualidade e estariam dispostos a distribui-las à população em caso de confronto. Aliás, ainda hoje algumas dessas armas - que foram desviadas do exército português - continuam desparecidas.

Uma coisa é garantida, depois deste dia o ambiente ficou bem mais "leve", embora muito tenha acontecido nos anos seguintes. No entanto, o espectro da guerra civil nunca mais de pôs. Se o caminho político seguido após o 25 de Novembro de 1975 foi o melhor, isso não sei, mas se evitou um conflito fraticída, ainda bem que aconteceu!